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Archive for the ‘crônicas’ Category

Bem, outra tarde desperdiçada, outro potencial “Príncipe Encantado” saindo da minha vida. Eu acho que já deveria estar acostumada a isso, porque é simplesmente tão típico: homens irão conversar o dia todo sobre o quanto valorizam a ambição e a inteligência em uma parceira, mas quando finalmente encontram uma górgona educada e bem-sucedida, repentinamente eles saem correndo.

Desnecessário dizer, uma companhia esperta e sofisticada não é o que esses homens estão na verdade procurando. Não, o que eles querem mesmo é alguma mortal facilmente impressionável e que irá rir de todas as piadas deles. Alguém que não vai desafiar suas mentes ou discordar de suas opiniões. Alguém que não tenha uma aparência tão aterrorizante que transforme seus admiradores em pedra.

Eu suponho que poderia dar risadinhas, adejar os olhos, e despreocupadamente girar uma serpente sibilante e venenosa em torno de meus dedos – mas não é assim que eu sou.

Olha, eu trago muita coisa pra mesa. Eu fiz um MBA em Harvard, eu administro minha própria empresa, eu tenho o poder mortal de roubar o sopro de vida de todos que me fitam, e eu estou em ótima forma. Se eu fosse um homem, seria admirado e invejado por essas coisas. Mas não sou e, por causa disso, os homens me acham ameaçadora. Quando eu caminho dentro de um aposento, eles se viram de medo, fecham os olhos e cambaleiam para fora do lugar, em pânico.

E estamos falando de homens adultos!

Como vocês podem imaginar, namorar, pra mim, é um grande desafio. Aqui estamos em 2010, e os seus preciosos pequenos egos masculinos ainda são tão frágeis que não conseguem suportar sentar-se numa mesa de jantar diante de uma górgona independente e indescritivelmente horripilante, que ganha mais dinheiro do que eles.

Quando olho no espelho, eu gosto do que vejo: lábios carnudos, olhos vermelhos brilhantes, um enredado de víboras vivas na minha cabeça. Minha irmã Stheno diz que eu “verdadeiramente personifico os terrores do mar” e que eu seria um “bom partido” para qualquer homem com metade de um cérebro. Não sei, talvez ela esteja certa. Ainda assim, toda vez que a verdadeira ‘eu’ emerge — a monstra confiante e culta, com medonhos dentes similares aos de um javali, e que sabe o que quer e não tem medo de conseguir — tudo começa a desandar.

Bem, desculpe, caras. Se vocês estão procurando por alguém para ficar sentadinha, calada e linda, o tempo todo se certificando de manter seu par de asas educadamente dobradas, vocês estão me confundindo com outra pessoa.

É pegar ou largar. Eu sou forte, linda, não tenho medo de falar o que penso, e berraaar e chiaaar!

Estou pedindo por algo tão doido assim? Não posso aproveitar a noite fora da cidade com um homem que aceite — não, que valorize — as melhores partes de mim? Alguém que aprecie minhas muitas realizações pessoais e que não vai simplesmente gritar e gritar enquanto seu corpo lentamente vira pedra e nunca mais me telefonar?

Recentemente, eu me inscrevi num site de encontros, achando que se eu fosse completamente sincera sobre mim, eu encontraria o homem certo. Mas que falta de sorte! Você pode mencionar que tem sua própria ilha grega, você pode postar uma foto revelando sua forma flexível, seus olhos selvagens, sua língua bifurcada e tudo o mais, mas se você mencionar que é uma profissional poderosa e que se fez sozinha, cujo lar repleto de homens petrificados que se postam diante dela, aí vem o “ôo, não, obrigado, cabeção!”

Todo homem recua de horror de uma górgona no momento que ele descobre que ela tem algo de inteligente dentro da sua cabeça cheia de serpentes?

Eu admito que deve haver outras questões por trás do meu intelecto intimidante. Alguns caras podem pensar que, por eu ter milhares de anos de idade, eu esteja procurando algo estável para começar a ter filhos imediatamente. Mas não é verdade. Eu só quero o que todas querem: companhia com um igual que não virará pedra sempre que eu cravar minhas garras de bronze em sua carne e rasgá-la de seus ossos espalhados.

Argh. Provavelmente vou ficar solteira para sempre.

(por Euryale | 15 de abril de 2010 | The Onion edição 46•15 – traduzido por mim – Original CLICANDO AQUI.)


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